O FOLCLORE ALAGOANO Alagoas é entre todos os Estados brasileiros o que possui o maior número de folguedos populares. São registrados pelos estudiosos do assunto cerca de vinte e nove folguedos e danças alagoanas, a saber: quatorze natalinos, dois de festas religiosas, quatro carnavalescos, quatro carnavalescos com estruturas simples, dois torés e três danças.
Para termos uma melhor compreensão apresentamos uma classificação dessas manifestações.
FOLGUEDOS NATALINOS
Baianas
Bumba meu Boi
Cavalhada
Chegança
Fandango
Guerreiro
Maracatu
Marujada
Pastoril
Pastoril Profano
Presépio
Reisado
Quilombo
Taieiras
FOLGUEDOS RELIGIOSOS
Mané do Rosário
Bandos
FOLGUEDOS CARNAVALESCOS
Cambindas
Negras da Costa
Samba de Matuto
Caboclinhas
FOLGUEDOS CARNAVALESCOS COM ESTRUTURA SIMPLES
Boi de Carnaval
Ursos de Carnaval
Gigantões (bonecas)
A Cobra Jararaca
OS TORÉS
Toré do Índio
Toré de Xangô
Rodas de Adultos.
BAIANAS
Este folguedo não possui um enredo determinado. As baianas cantam uma seqüência constituída de marchas de entrada ou abrição de sede, peças variadas e por fim a despedida. Personagens: grupo de dançadores. Trajes: vestes convencionais de baianas. Instrumentos: percussão. BUMBA MEU BOI
Auto popular de temática pastoril que tem na figura do boi o personagem principal. Sua apresentação em Alagoas é semelhante a um teatro de revista. Consta de desfile de bichos que dançam ao som de cantigas entoadas por cantadores e acompanhadas por conjunto musical. Instrumentos: percussão e apito. CABOCLINHAS
Dança cortejo, sem enredo ou drama. Forma de reisado, no qual os personagens se vestem de penas. Originário dos maracatus pernambucanos com elementos do reisado alagoano, a exemplo das baianas e samba de matuto. Personagens: mestre, contramestre, embaixadores, vassalos, mateus, rei, lira, general, borboleta, estrela de ouro, rei Catulé e caboclinha. Trajes: cocar, tanga, braceletes e perneiras de penas de peru, colares, brincos de dente, conchas ou sementes. Instrumentos: banda de pífanos. CAVALHADA
Cortejo e torneio a cavalo, em que a parte mais importante consiste na retirada de uma argolinha, com a ponta da lança, em plena corrida. Os doze cavaleiros ou pares são divididos em cordões azul e encarmado. Tem origem nos torneios medievais.
CHEGANÇA
Auto marítimo existente em Alagoas é a versão das Mouriscadas da Península Ibérica e das danças Mouriscas da Europa. Quase todo bailado e cantado, realiza-se em uma barcaça armada especialmente para este fim. Personagens: almirante, capitão, Capitão de mar e guerra, mestre piloto, mestre patrão, padre-capelão ,doutor cirurgião, oficiais inferiores, marujos e dois gajeiros. Trajes: à maruja. Instrumentos: pandeiro. COCO ALAGOANO
Dança de origem africana, cantada e acompanhada pelas batidas dos pés ou tropel. Também denominada pagode ou samba. Surge na época junina ou em outras ocasiões para se festejar acontecimentos importantes da comunidade. Personagens: mestre e dançadores. Traje: roupa do dia a dia. Variações do estilo: coco solto, quadra, embolado, coco de entrega, coco de dez pés, praieiro, bambelô, zambê, coco de roda e samba de coco. FANDANGO
Auto dramático de temática náutica, como a chegança. Entoam cantigas náuticas de diversas épocas e origens, algumas sem dúvida portuguesas que falam de suas grandes navegações. Personagens: almirante, capitão, capitão de mar e guerra, mestre piloto, mestre patrão, oficiais, marujos e gajeiro. Trajes: oficiais com quepe de pala, paletó azul marinho com camisa e gravata preta, ornado de platinas e alamares, calças brancas, espadas e espadins; marujos de gorro e blusa maruja da mesma cor que a dos oficiais. Instrumentos: rabeca e viola. GUERREIRO
Auto genuinamente alagoano, misto de reisados alagoanos e do antigo e desaparecido auto dos Caboclinhas da chegança e dos pastoris, surgido entre os anos de 1927 e 1929. Trajes: multicoloridos, usando-se fitas, espelhos, diademas, mantos e contas aljôfares. Personagens: rei, rainha, índio Peri e seus vassalos, lira. Instrumentos: sanfona, tambor e pandeiro. PASTORIL
É um fragmento dos presépios, constituído por jornadas soltas, executado-se a de boa noite e a da despedida. Personagens: mestra, contramestra, diana, as pastorinhas, o pastor e a borboleta. Trajes: saias, blusas, faixas, aventais, chapéu de palhinha, nas cores azul e encarnado. Levam um pandeiro feito de lata, com cabo e sem tampa, ornado de fita com a cor do cordão a que pertence. Acompanhamento: conjunto de percussão e sopro. REISADO
Auto popular profano religioso, formado por vários grupos de músicos, cantores e dançadores apresentando vários episódios. Sincretizou-se, no Estado, com o auto dos congos ou rei dos congos.
Personagens: rei, rainha, embaixador, mestre ou secretário de sal, contramestre, mateus e palhaço. Trajes: saiote de cetim colorido, chapéu de aba larga guarnecido de espelhos redondos, flores artificiais e fitas variadas. Instrumentos: sanfona, tambor e pandeiro. VAQUEJADA
Pega do Boi, Corrida de Mourão ou como é mais conhecida Vaquejada é um esporte caro pois necessita de local apropriado para sua prática diferente dos tempos em que Lampião e seus "Cabras" o praticavam nas caatingas. Geralmente corre-se vaquejada por dupla, uma vez que um dos vaqueiros faz o papel de "esteira", para que o boi não saia pelo lado oposto ao do "puxador", que segurando a cauda do animal, faz força para derrubá-lo de patas para cima. Na vaquejada cada lance envolve risco e exige coragem é realmente como dizem os que dela participam: "um esporte de cabra macho". Traje: Comum geralmente com as proteções usadas pelos vaqueiros.
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O GOGÓ-DA-EMA Sobre o Gogó-da-Ema, o maior símbolo de Maceió, o historiador Luis Veras Filho, num excelente trabalho publicado pela Fundação Teatro Deodoro, da série Maceió - História e Costumes, assim se manifesta: "Uma onda de tristeza, lamentos e protestos invadiu Maceió na manhã do dia 28 de julho de 1.955, ao ser divulgado, amplamente, o tombamento - no sentido drástico do vocábulo - do "Gogó-da-Ema". Lá estava, deitado, moribundo, na areia alva da Ponta Verde, a palmácea poética da cidade. Há muito que se esperava o espetáculo. Os jornais e a população clamavam por uma proteção mais segura ao coqueiro. Desprezado pelas autoridades, apesar de gabado e sempre apresentado por todos os maceioenses aos visitantes da cidade, o "Gogó-da-Ema" , às 16;30 hs. do dia 27 de julho de 1.955, teve sua proteção fortemente invadida pelas águas impetuosas do Atlântico; e, finalmente, sem mais se conter em suas raízes, caiu, naquela encantadora hora de início de crepúsculo, como são os fins-de-tarde da Pajuçara e da Ponta Verde. O "Gogó-da-Ema" desafiava a lei da gravidade, o que fazia com que houvesse a necessidade do máximo de fixação ao solo para que permanecesse de pé. Mas, o que ele mereceu das autoridades foi apenas um punhado de barro em sua base e um cais-de-proteção de troncos e coqueiros, estacas de madeira e pedaços de arrecifes extraídos do local, juntados com cimento, de pouca resistência, que a preamar, sempre debelando, aos poucos foi tornando sua queda iminente. Nunca se pôde compreender o esquecimento a que o governo relegou o coqueiro-aleijão, cujo defeito o tornou motivo histórico para nossa capital. Estranhável o descuido do poder público, depois que a fama da inditosa palmeira atravessou os limites do estado para torná-la conhecida no país e no estrangeiro, através de postais, gravuras, fotografias, panfletos e "posters" , nos interessantes aspectos colhidos pela habilidade dos fotógrafos amadores e profissionais, nas manhãs tranqüilas e cheias de luz, como nas noites poéticas, com a lua a surgir dentre as nuvens, através da sua fronde majestosa a dominar a paisagem. O "Gogó-da-Ema" vivia por todas as partes: na vitrine dos estúdios; nos álbuns de seus mostruários; na bela coleção de fotografias colorizadas que enriqueciam e encantavam o atelier de Arnaldo Goulart; nas telas de José Paulino; nas luxuosas latas dos biscoitos "Brandim" . Por toda a parte estava o "Gogó-da-Ema". O local onde ele dominava tornara-se o ponto-de-encontro escolhido dos namorados e das conquistas arriscadas. Nas tardes amenas, era o passeio preferido pelo encanto maravilhoso da paisagem marítima e pelos que se deliciavam com a água saborosa do coco verde. Nas noites de luar, o "Gogó-da-Ema" foi testemunha discreta e muda dos encontros felizes, das confissões apaixonadas que ouvia, dos devaneios, dos íntimos aconchegos amorosos a que assistia impassível. Ele atraía, com um estranho magnetismo, os namorados, como se fosse tal como Vênus da mitologia, inspirando mais o amor, lançando nos pensamentos palavras carinhosas que transmitimos àqueles que amamos... Lembro-me, quando menino, vi o "Gogó-da-Ema" pela primeira vez: o dia era claro e a luminosidade cobria a terra; e eu, boquiaberto, admirava aquela silhueta que se lançava ao mar e ao firmamento. Fiquei deslumbrado por algum tempo, olhando aquela paisagem maravilhosa que mais parecia imaginária... Veio o entardecer, uma brisa suave agitava os meus cabelos salgados, o vento tornava-me sonolento, o manto escuro começava a substituir a luminosidade do sol que se tornava rubro cada vez mais, tornando a paisagem tão bonita que nenhum pintor deste universo, por gênio que fosse, conseguiria transpor para sua tela. Era, o "Gogó-da-Ema", o coqueiro fenomenal que, acidentalmente, cresceu - a Natureza, para ser retilínea, às vezes entorta - daquela forma : na parte inferior da curva pronunciada do "Gogó", havia cicatrizes de traumatismos causados por pequenos insetos que, com certeza, afirmaram agrônomos da época, deram-lhe aquela forma. Era uma espécie de monumento da Natureza, o qual, naquela solidão, vivia confortado pela lembrança de todos os que o visitavam para ver se, de fato, aquele vegetal tinha mesmo, no tronco, a curva parecida com a do pescoço dos pernaltas. Ele ficava na ponta do semi-cabo que conhecemos como Ponta-Verde, como se fosse um farol, mostrando as adjacências dos pontos-de-partida dos destemidos jangadeiros. E, naquele recanto, ele era como se fosse uma pessoa contando-nos uma história que só terminava quando se saía de lá. O coqueiro amigo era como recanto para todas as idades, porque era o recanto para todas as mocidades. Quando foi plantado e quem o plantou, isso ninguém descobriu. Quem o batizou, ninguém o sabe; mas, segundo Roberto Stukert, um repórter-fotográfico que foi quem mais o retratou, quem oficializou o nome foi o então Deputado e escritor Mendonça Júnior, que havia, também, sido Diretor do Departamento Estadual de Cultura. Segundo se afirmava, o coqueiro-símbolo de Maceió existia desde os meados dos anos 10, no sítio outrora pertencente a Francisco Venâncio Barbosa, mais conhecido como Chico Zu. No início era pouquíssimo conhecido, e quem o fosse ver arriscava-se a ser mordido por cães que guardavam o local. Além do descaso das autoridades, outro motivo que provocou sua morte, segundo consta, se deu a partir de 1.930, quando, próximo ao local, uma empresa norte-americana perfurou vários poços em busca de petróleo; os alicerces de uma das torres ainda estão lá até hoje. Com isso, o mar começou a avançar, derrubando vários coqueiros, fazendo com que se pudesse divisar o "Gogó" ao longe, quer da praia de Pajuçara, quer do mar. Mas o mar continuava a avançar, pondo em risco a famosa palmeira. Veio então a construção do Porto de Jaraguá, que ocasionou mais acentuadamente a invasão marítima, quando a Prefeitura construiu o bisonho cais-de-proteção, que não resistiu à fúria do mar. José Dias de Oliveira, empregado na propriedade onde ficava o "Gogó", que já pertencia ao sr. Álvaro Otacílio, foi quem viu o coqueiro cair: "... Ele não caiu de uma vez. Foi aos pouquinhos. Foi caindo e, já em baixo, despencou com mais violência, com um barulho seco." A queda do referido vegetal chegou a merecer uma ampla reportagem em " O Cruzeiro ", a melhor revista brasileira da época, ilustrada com fotografias dele, imponente, majestoso e, depois, sucumbido. Tentaram ressuscitar o coqueiro, com a participação de centenas de pessoas, autoridades e agrônomos, além do Corpo de Bombeiros, o qual, com a ajuda de um guindaste, ergueu a árvore. Essa iniciativa foi encabeçada pelo jornalista Carivaldo Brandão. Mas, em 1.956, foi, o "Gogó-da-Ema" , dado como morto definitivamente. Sobre ele, é importante transcrever, aqui, palavras do ilustre folclorista Théo Brandão : " É verdade que o "Gogó-da-Ema" é um aleijão. Mas há harmonia em suas linhas. Quanto ao mais, o povo já o elegeu como símbolo da cidade. Significa uma preciosidade da terra. Como folclorista, temos obrigação a zelar pelos que, mesmo sem serem feitos pelo povo, são entronizados como símbolos pelas camadas populares. Aliás, no material da Comissão de Folclore de Alagoas, o "Gogó-da-Ema" aparece como símbolo". O saudoso coqueiro, como já foi dito, sempre foi muito querido pelos namorados, a quem acolhia nas manhãs e tardes ensolaradas, ou nas noites de luar. Talvez, por isso, tantas visitas teve depois de moribundo. A solidariedade foi tamanha, que parecia que todos eram parentes do coqueiro. E, mesmo sendo o "Gogó-da-Ema" o recanto predileto dos namorados, que lá se encontravam cheios de amor, por incoerência morreu por falta desse sentimento." Publicada no Boletim Alagoano de Folclore No 11, de 1.987, a lenda do Gogó-da-Ema é relatada da seguinte maneira, por Maria Aída Wucherer Braga: "Narra uma velha lenda: era uma vez uma índia morena, virgem de corpo e de coração. Habitava a taba dos guerreiros caetés, tecia redes e se enfeitava de penas. Mirava o rosto nas águas claras da lagoa e corria pela mata, ouvindo o grito da araponga e respondendo ao canto da cauã. Um dia ouviu-se um brado de guerra e os guerreiros partiram manejando os tacapes. Os arcos retezados expediam flechas e eram tantas que se confundiam no ar. Três sois lutaram sem descanso e sem cansaço. Ao alvorecer do quarto dia voltaram triunfantes. Entre os troféus, traziam preso um inimigo. Começaram os festejos. O indio era forte e era belo. Não queria ser sacrificado. Pediu para lutar e venceu três embates. Não se mata um herói entre os índios. Só os civilizados têm medo da coragem e do heroísmo dos outros. A virgem caeté apaixonou-se pelo índio prisioneiros e fugiram na calada da noite. Andavam sol a sol. À noite deitavam-se na terra e suas bocas sedentas de água e sedentas de amor se encontravam na escuridão. Recomeçavam a caminhada com a aurora. A índia definhava. Seus passos já não eram ágeis, seus membros pesavam, seus olhos ofuscados pela claridade dos dias de sol procuravam a terra e a cabeça pendia-lhe no peito. E a marcha prosseguia em busca de outras terras. Um dia viram água, muita água. Era a imensidão do mar. Exausta, ela se deitou na beira da praia deserta. Suas forças chegavam ao fim. Desesperado, ele pediu a Tupã que o transformasse em uma árvore cujo fruto tivesse água doce para matar a sede à sua amada, polpa para mitigar-lhe a fome, óleo para untar seus pés cansados e palmas longas para abrigar na sombra seu corpo franzino. Tupã atendeu. Transformou-o em coqueiro, o primeiro coqueiro que houve sobre a terra. Na ânsia de crescer, ele elevou o tronco muito acima das areias brancas e ela não alcançou seus frutos pendentes. Então, num esforço gigantesco, ele se curvou para a praia, abaixando o tronco poderoso. A índia já não resistia. Com as mãos estendidas para colher os frutos de água doce e polpa macia, sua alma voara em direção às nuvens. Novamente, num esfoço supremo, ele movimentou o tronco para o alto e ergueu a copa verde carregada de frutos para o céu. Até morrer ele ficou ali numa praia de Alagoas, embalando nas palmas adejantes, a alma fugitiva de sua amada". fonte:site tribunal de contas de alagoas |
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